sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Jeff Wall


 Jeff Wall é um artista contemporâneo de importância fundamental para a consolidação
da fotografia como forma de arte. Seu trabalho intervencionista transita, com
naturalidade, entre o real e a ficção, além de aliar harmonicamente características
tradicionais e experimentais na mesma obra. Este artigo faz uma análise das
cinematografias de Wall, relacionando-as com questões importantes discutidas ao longo
da história da fotografia, com o objetivo de desfazer preconceitos que estão vinculados à
imagem fotográfica desde a sua criação. 

 
Jeff Wall produz, segundo ele próprio (JEFF, 2005), três tipos de imagens
fotográficas. O primeiro é a imagem “extremamente artificial”, sem ligação direta com
o real. O segundo é a chamada straight photography (ou fotografia direta), que, de acordo com ele,
são “imagens tão verdadeiras quanto qualquer outra da história da fotografia”.
E o terceiro são imagens quase encontram no meio do caminho entre as duas anteriores, 
parecendo meio artificiais, meio verdadeiras; meio fictícias, meio reais. Dentre essas três categorias de imagens, a
que nos interessa como objeto de estudo é a terceira, justamente pela tentativa de rompimento com as 
fronteiras entre o real e a ficção na fotografia. O método utilizado para a produção dessas imagens – 
apelidado pelo próprio Wall de cinematografia – consiste na realização de uma fotografia “montada”,
produzida como um filme onde Wall seria o diretor. Ele constrói a cena, dirige os atores, tira inúmeras fotos 
até encontrar a que melhor lhe convém para a situação. 

Às vezes, quando julga necessário ou apropriado,junta mais de uma imagem, através da
montagem digital, para criar a cena que deseja criar outra característica significante no trabalho 
de Wall é o rigor técnico empregado na realização de suas cinematografias.
Seus enquadramentos são minuciosamente pensados, assim como cada detalhe que 
resolve incluir ou retirar de suas fotos. Esses aspectos técnicos – entre eles o formato
horizontal, a escala grande e a precisão da composição – renderam comparações de suas
 fotografias com os clássicos tableaux, Jeff Wall, inclusive, reivindicou o termo tableau
para designar suas fotos, no final da década de 1970.

Quando eu compreendi que havia meios de introduzir uma forma de teatro ou
artifício na fotografia, eu acabei compreendendo também que essa teatralidade
era compatível com o “estilo documental” da street photography. [...] Eu senti
que poderia fazer algo que parecesse street photography, ou que, pelo menos,
tivesse uma relação interessante com o que a
street photography pretendia. 

Mimic
“Mimic” foi minha tentativa de juntar astreet photography com a cinematografia. [...] Se eu tivesse fotografado
“Mimic” com um filme de pequeno formato, o que teria sido maisfácil tecnicamente, 
eu teria uma superfície granulada, o que atrapalharia a visualização dos corpos no espaço. 
Foi fotografado em 8x10. Então teve que ocorrer uma hibridização desse tipo de fotografia [...]. (WALL, 2007, p.280)